Em junho de 2013, ao celebrar 57 anos
de capelão da capela de São Vicente, o padre Sátiro Cavalcanti Dantas foi
reconhecido por Mossoró como o mestre de todos os tempos; apóstolo do
conhecimento e ícone de nossa história. Nenhum exagero. Pelo contrário. O religioso
foi muito além ao dedicar a sua vida para formação cidadã de gerações de
mossoroenses.
Entender o que representa o padre
educador na vida das pessoas é preciso voltar ao tempo e fazer uma viagem por
cada ponto que edificou a sua história de sacerdote de grandes virtudes, que
confunde com a própria história da Igreja Católica local e da formação
educacional e intelectual de várias gerações.
O começo de tudo data em 22 de
janeiro de 1930, na cidade de Pau dos Ferros, região do Alto Oeste do Rio Grande
do Norte. Há exatos 90 anos. Nascia naquele dia Sátiro Cavalcanti Dantas, filho
de João Fernandes Dantas e Erondina Cavalcanti Dantas. O nome, Sátiro, foi em
homenagem ao seu avô materno.
De família simples, mas bem estruturada, Sátiro Cavalcanti teve uma infância
tranquila, até que um fato triste mudou a sua vida, que foi a morte do pai com
apenas 42 anos. Na época, com apenas 11 anos de idade, Sátiro viu a sua mãe
Erondina enfrentar dificuldades depois que fechou o comércio deixado pelo marido.
Tudo foi à falência em dois anos.
“Fui botador d’água”, recorda,
comentando que seus instrumentos de trabalho eram “um burro com ancoretas de
barril de vinagre”, onde colocava água nas residências. O dinheiro que ganhava
ajudava na renda da família. A luta diária, apesar de árdua, não impediu os
estudos no Grupo Escolar Joaquim Correia, na sua terra natal, onde cursou o
primário, nem a atividade de coroinha na Paróquia de Nossa Senhora da
Conceição, sob as bênçãos do monsenhor Manoel Caminha.
Foi o monsenhor Caminha e dona
Erondina que incentivaram a vida religiosa de Sátiro, e que serviram para ele
superar críticas de irmãos e amigos. Aliás, pelo desejo de sua família, era o
seu irmão mais velho, José Fernandes Dantas, que seguiria a vida religiosa. Para
Sátiro, era reservada a missão de ser doutor. A vida tratou de encaminhá-los de
forma diferente. José Dantas (falecido em 5 de janeiro de 2013) teve uma
trajetória vitoriosa no mundo jurídico, chegando ao cargo de ministro do
Superior Tribunal de Justiça (STJ), enquanto Sátiro seguiu o caminho da fé,
esperança e caridade.
A sua vocação religiosa foi
despertada aos 14 anos de idade. “Quando decidi me tornar sacerdote, somente
minha mãe e padre Caminha acreditaram. Minhas professoras diziam que eu era um menino
inteligente e queria só os estudos e depois não seguiria”, conta. Ele foi
crismado no dia 15 de agosto de 1936, por dom Jaime de Barros Câmara. Depois
daí, entendeu que era preciso dar o passo mais importante para a sua vida
religiosa.
No dia 9 de fevereiro de 1943, após
seguir viagem de trem, desembarcou na cidade de Mossoró, junto com a mãe e os
cinco irmãos; e naquele mesmo dia, Sátiro ingressou no Seminário de Santa
Teresinha, para continuar a formação de seus estudos, realizando o 1º grau
menor. O reitor naquele tempo era padre Huberto Bruening, e o orientador
espiritual era padre Miguel Nunes, e em seguida foi padre Gentil Diniz Barreto.
Estes foram muito importantes para a formação religiosa do seminarista Sátiro
Cavalcante Dantas, e naquele seminário ele concluiu o curso ginasial e
científico.
Estava pronto para avançar a sua
caminhada. Foi estudar no Seminário em Fortaleza, logo após em Olinda (PE), e
mais adiante cursou Filosofia, no Seminário Central Nossa Senhora da Conceição,
em São Leopoldo (RS), de 1949 até 1951. Cursou Teologia Dogmática, realizado na
Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, no período de 1951 a 1954; cursou
Licenciatura Plena, realizada na Universidade Católica de Pernambuco, em 1970;
cursou Ciências Jurídicas, realizado na Fundação Padre Ibiapina, em Sousa (PB),
no período de 1974 a 1977, e ainda se especializou para Docentes do Ensino
Superior, área de Sociologia.
Sábio e estudioso, Sátiro Cavalcanti
progrediu sua formação intelectual, na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma,
cursando Teologia Dogmática, até o ano de 1954. Em Roma, ele recebeu a tonsura
no dia 26 de outubro de 1952, diaconato em 31 de outubro de 1954, ordenado
sacerdote em 8 de dezembro de 1954, por ocasião dos 100 anos do Dogma da
Imaculada Conceição, pelo arcebispo de Puebla, México, que reuniu nesta
celebração todos os ordenados da América Latina.
Sátiro ainda permaneceu mais um ano
em Roma, para concluir os estudos de Teologia, ele foi ordenado um ano anterior
por autorização do santo padre, papa Pio XII. Retornou ao Brasil em 1955,
voltando à cidade de Mossoró em 28 de novembro daquele mesmo ano. Estava pronto
para cumprir a sua missão divina e sagrada, como sacerdote de Deus e educador
por natureza.
Os 90 anos do padre Sátiro Cavalcanti
Dantas, completados nesta quarta-feira (22), não serão marcados por celebrações
festivas, mas, sim, por preces, a pedido do próprio religioso, “das quais tanto
preciso agradecendo a Deus, por meio de Nossa Senhora da Conceição, por tudo
que realizei até agora para o crescimento do Reino de Deus.”
FONTE JORNAL DE FATO